Apresentação

Gerar, disseminar e debater informações sobre LEITES FERMENTADOS, sob enfoque de Saúde Pública, é o objetivo principal deste Blog produzido no Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde - LabConsS da FF/UFRJ, com participação de alunos da disciplina “Química Bromatológica” e com apoio e monitoramento técnico dos bolsistas e egressos do Grupo PET-Programa de Educação Tutorial da SESu/MEC.

Recomenda-se que as postagens sejam lidas junto com os comentários a elas anexados, pois algumas são produzidas por estudantes em circunstâncias de treinamento e capacitação para atuação em Assuntos Regulatórios, enquanto outras envolvem poderosas influências de marketing, com alegações raramente comprovadas pela Ciencia. Esses equívocos, imprecisões e desvios ficam evidenciados nos comentários em anexo.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

ACTIVIA: É IMPORTANTE O USO DE CONSERVANTES?


Os leites fermentados são atrativos por proporcionarem benefícios à saúde do consumidor, além de promoverem grande sensação de prazer ao serem ingeridos como sobremesa tanto por crianças quanto por adultos. Despertam a atenção do consumidor, por sua cor, sabor e odor, além da facilidade no manuseio da embalagem. Porém, no que diz respeito às informações nutricionais, algumas destas passam despercebidas e outras levam ao questionamento dos que consomem o produto.

Existem diversos subtipos de leites fermentados, entre eles os cultivados, cuja fermentação é realizada por um ou vários dos seguintes cultivos: Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei, Bifidobacterium sp, Streptococus salivarius subsp thermophilus e/ou outras bactérias acido-lácticas.

Um dos produtos mais famosos por suas propriedades regulatórias no organismo, o ACTIVIA® da Danone, se enquadra na classificação mencionada anteriormente, pois apresenta em sua composição as bactérias L.Bulgaricus, S. Thermophilus e Bifidobacterium. Estas por sua vez, quando ingeridas em quantidades adequadas, são responsáveis por ajustar a microflora no intestino além de estimular a função imune. Estes microorganismos conseguem resistir ao pH ácido do estômago e dessa forma se aderem à mucosa intestinal, realizando suas funções.

O mais interessante é que o produto citado acima apresenta em sua composição Sorbato de potássio como conservante. Este tem como função inibir o crescimento de diversos microorganismos, entre os quais, leveduras, mofos e bactérias. No entanto, não desempenham efeitos sobre os microorganismos responsáveis pela produção do ácido lático, sendo então antimicrobianos ideais na produção de leites fermentados em geral.

De fato, a Instrução Normativaº 46, de 23 de Outubro de 2007, Ministério Da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que Adota o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leites Fermentados cita que: “5.1.3. ...No caso particular do agregado de polpa de fruta ou preparado de fruta, ambos de uso industrial, admitir-se-á, além disso, a presença de ácido sórbico e seus sais de sódio, potássio e cálcio em uma concentração máxima de 300 miligramas por quilograma (expressos em ácido sórbico) no produto final.”

Como o ACTIVIA® é um leite fermentado com agregado de polpa de frutas, este produto está mais suscetível à deterioração quando comparados aos leites fermentados exclusivamente lácteos (como no caso do YAKULT® que não possui quaisquer aditivos químicos em sua composição nutricional), e isso justificaria o uso do Sorbato de Potássio em sua formulação.

Dessa forma, o consumidor poderia se sentir seguro já que o Sorbato de Potássio não geraria toxicidade, se utilizado nas concentrações permitidas pela legislação vigente, como também não afetaria a funcionalidade das bactérias responsáveis pela fermentação do leite. Porém, por desempenhar uma função bacteriostática, poderia estar afetando a quantidade de bactérias benéficas que chegam ao trato gastrointestinal, o que prejudicaria a efetivação das ações esperadas em relação à saúde do consumidor.

Um fato curioso é que o ACTIVIA® comercializado nos Estados Unidos não apresenta na sua formulação quaisquer substâncias antimicrobianas, o que nos leva a pensar se existe ou não a necessidade de empregar estes aditivos na produção deste leite fermentado. O não uso de um conservante em um leite fermentado com agregado de polpa de fruta, promoveria uma deterioração mais rápida, porém, talvez isso poderia ser resolvido através de boas práticas de fabricação (BPF) e um maior controle microbiológico durante o processo de produção deste produto.

Sabe-se que há especulações e projetos em andamento sobre o emprego destes antimicrobianos nestes produtos. Atualmente, a legislação brasileira permite o uso destas substâncias nos leites fermentados com agregados de polpas de frutas, entretanto na literatura não se encontram respostas no que diz respeito sobre a real necessidade do emprego de conservantes nestes produtos e se os mesmos não afetariam a quantidade de bactérias necessárias para realização dos seus efeitos. Assim, esse tema fica aberto a discussão do público.


ROTULAGEM NUTRICIONAL: ACTIVIA® POLPA DE MORANGO (BRASIL)
(Fonte: site da danone no Brasil)


Ingredientes: leite fermentado, morango, leite integral e/ou leite integral reconstituído, açúcar, preparado de morango (morango, água, açúcar, amido modificado, corante natural carmim cochonilha, acidulante ácido cítrico, conservador Sorbato de Potássio, aroma idêntico ao natural de morango e espessante goma xantana), leite em pó integral, amido modificado e fermento lácteo. CONTÉM GLÚTEN. Pode conter traços de castanha de caju.

ROTULAGEM NUTRICIONAL: ACTIVIA® POLPA DE MORANGO (ESTADOS UNIDOS) (Fonte: site da danone nos Estados Unidos)

Cultured grade a reduced fat milk, strawberry, fructose syrup, sugar, contains less than 1% of fructose, whey protein contentrate, corn starch, modified corn starch, kosher gelatin, natural flavor, carmine (for color), sodium citrate, malic acid.
Contains the active cultures L. Bulgaricus, S. Thermophilus and Bifidobacterium


Cristine do Nascimento Patricio

Giselle Barbosa de Lima

Leites Fermentados: lactobacilos vivos... sobrevivem e cumprem seu papel?


Parte da publicidade dos leites fermentados é baseada na importância dos lactobacilos neles contidos para nossa a saúde: como reguladores da flora intestinal. Uns fabricantes continuam a anunciar benefícios para a imunidade do organismo (já que algumas bactérias da flora intestinal produzem IgA) e propriedades preventivas de doenças. Os estudos comprovam que as suas principais vantagens se encontram na regulação do trânsito intestinal, sobretudo em pessoas com prisão de ventre, no tratamento de inflamações intestinais e diarreias, facilitando a proliferação de bactérias benignas.


No ano de 1930, após anos de contínuas pesquisas, o japonês Dr. Shirota selecionou uma espécie de lactobacilos, resistentes à acidez do estômago e que, mantendo-se vivos no intestino, inibiam a proliferação de bactérias intestinais nocivas, promovendo o equilíbrio da flora intestinal (um balanço entre as benignas e nocivas).


Entretanto, uma vez que os benefícios imunitários não estão absolutamente comprovados, não é correto que os produtores o usem na publicidade e nos rótulos. Também há controvérsia quanto à diminuição do teor de colesterol devido à ingestão de leites fermentados, o que não deveria ser anunciada nos rótulos. Esta é uma situação que merece maior atenção das entidades competentes, como a ANVISA.


É importante perceber também que as bactérias presentes nos leites fermentados só podem fazer a diferença no organismo quando o consumo é diário e se uma grande quantidade sobreviver à passagem pela acidez do estômago. Mais ainda, o alto teor de açúcares desses alimentos acaba por ser mascarado pela publicidade, enquanto deveria ser maior alvo de atenção por parte dos consumidores, já que dietas muito ricas em carboidratos podem fazer mal à saúde.


Em suma, eles podem facilitar o trânsito intestinal e ser excelente fonte de proteínas, carboidratos, cálcio e magnésio, mas não necessariamente um copinho de leite por dia seja suficiente para a manutenção de uma flora intestinal bem equilibrada. Vale lembrar que uma alimentação equilibrada é fator determinante para o bom funcionamento gastro-intestinal.

Fonte:

http://lqes.iqm.unicamp.br/canal_cientifico/lqes_news/lqes_news_cit/lqes_news_2006/lqes_news_novidades_748.html

http://dinakaufman.com/artigos/sobre-a-flora-intestinal/

http://cvdii.bireme.br/tiki-read_article.php?articleId=8

http://pt.wikipedia.org/wiki/Yakult

http://saude.sapo.pt/artigos/?id=756145

http://comprar.todaoferta.uol.com.br/lactaid-ultra-lactase-fast-intolerancia-a-lactose-do-leite-ABIL3FSBFE

Stéfano - PET Farmácia/Saúde Pública